sexta-feira, 26 de junho de 2009

domingo, 21 de junho de 2009

Lisboa e os Poetas (14)


"Primeira canção em Lisboa"

"Em Lisboa é que nascem as gaivotas.
Que pena, meu amor, o mar não ser
um copo de água pura. De água para
a sede que em Lisboa eu vi nascer.

Em Lisboa. Capital do vento sul.
Coração do meu povo. A doer tanto
que a dor se tornou cor. E é azul
como a ganga dos homens do meu canto.

Em Lisboa a gente morre sem idade.
Devagar. Como se faz uma canção.
E há um pássaro que voa. É a saudade.
E uma janela aberta. O coração."


Joaquim Pessoa

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Há 50 anos (1)


Eu sei que passaram 50 anos…
Mas para além da natural “invasão” que os automóveis fizeram a espaços anteriormente abertos à circulação pedestre, faltam-me as palavras para classificar o que encontrei no “Chafariz da Mãe-de-Água”, passada a Praça da Alegria.
Na fotografia que tirei, tentando posicionar-me na mesma perspectiva da de 1959, mal se nota, mas o pano, a toda a largura, que lá está afixado, reza “Chafariz do Vinho”, organização comercial que, a crer no que se vê, tomou conta do local.
Inacreditável.
Vergonhoso.
Irreal.
Escabroso.

Mesmo que o milagre da transformação de água em vinho tivesse acontecido… é inadmissível que quem vela pelo nosso património nada tenha feito.
O Chafariz não pode ser propriedade privada.
E mesmo esta tem de ter decoro.
Parece que já vale tudo!


(Fotografia a preto e branco retirada do “site” do“Arquivo Fotográfico Municipal” de Lisboa)

sábado, 13 de junho de 2009

Instantâneos (14)


Quando vejo um destes anúncios, fico preocupado…

Pelo imóvel que deveria ser conservado e vai ser destruído.
Pelo projecto aprovado, quase sempre de uma envidraçada e incaracterística construção, igual em todo o mundo.
Pela alegre irresponsabilidade que parece ter tomado conta de quem deveria preservar o património.
Por Lisboa, que se vai transformando numa cidade atípica.


(Rua do Ouro)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Lisboa e os Poetas (13)


"É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata;
na canastra, a caravela,
no coração, a fragata.

Em vez de corvos no chaile,
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile com o mar.

É de conchas o vestido,
tem algas na cabeleira,
e nas velas o latido
do motor duma traineira.

Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria;
Seu apelido: Lisboa."


David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Lisboa em Prosa (2)

“Presépio, anfiteatro, cais dum destino, plano inclinado por onde há séculos um povo e uma alma parecem escoar-se a caminho de outros mundos e paisagens, do pão amargo sobretudo – Lisboa é este rio imenso, este horizonte de apelos sem fim, e não se pode ter nascido aqui, vivido aqui, ou ser-lhe assimilado, sem lhe sofrer o influxo, sem ficar para sempre, marcado duma vocação, dum desgarramento e fatalismo, dum anseio de partir e tornar, duma sensual melancolia”

José Rodrigues Miguéis

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Instantâneos (13)


Rua estreita. Curta. E simples.
Lisboa “operária”, castiça, nossa.
Com ou sem obras nos estores das minúsculas varandas, malmequeres ou craveiros nas janelas abertas ao sol primaveril de uma tarde de Maio, roupa estendida, aproveitando o calor.
Cores múltiplas.
Faltam os pregões de outrora. E os operários.
Ficou o velho candeeiro, testemunha de época, e não apenas nocturna.
Lisboa antiga.
Eterna.


(Fotografia tirada perto da Rua do Poço dos Negros)